terça-feira, 26 de janeiro de 2021

Escrita

Comecei a fazer o curso de escrita de Henry Bugalho. Além de já ter lido parte de sua obra, assisto seus videos diariamente e sou membro de seu canal no YouTube. A gota dágua que faltava foi o curso ser oferecido pelo Instituto Conhecimento Liberta, de Eduardo Moreira e Jessé de Souza. Paguei a anuidade e tenho direito a qualquer curso ali disponibilizado, sem qualquer custo adicional. Vai de Mandarim a Marketing Digital, passando por Filosofia, Grego e tudo que a gente possa imaginar.


Não assisti a primeira aula porque me inscrevi depois, mas o video fica disponível e imediatamente assisti. De agora em diante vou assistir em tempo real, às quartas feiras, onze foras da manhã. No começo, estranhei porque estou acostumado com os videos diários e já fiquei esperando as espetadas nos negacionistas e outras aberrações da espécie humana. Não teve nada disso. Ali era para aprender a escrever. Embora eu escreva todos os dias, não significa que saiba escrever. Tem gente que joga bola todo dia e continua perna de pau. Para estes resta desistir ou jogar no Barra Mansa FC. 


A qualidade do escritor, dizem, é medida pelos seus leitores. Henry diz que escrever não nos torna escritores. Para isso é preciso mais um pouco. É necessário publicar e atrair leitores. Qualquer que seja o critério, o primeiro passo é escrever, claro. Só que para dar o primeiro passo, antes precisamos dominar as letras. Para dominar as letras, precisamos conhecê-las, e ler é única maneira. Só depois de muito ler a gente se credencia a escrever. Gostei muito quando ele disse que começamos a escrever quando a leitura transborda. É por aí mesmo. Quando leio, me encanto não apenas com o que está escrito, mas também com a forma como está escrito. Quando for escrever, é natural que venha um pouquinho dos estilos que mais gostei. Não é pecado fazer isso. Todos os escritores um dia se inspiraram em outro escritor, ou em outros, o que é mais provável.


Tudo isso, porém, são teses não absolutas. O primeiro livro escrito no mundo foi Dom Quixote, de Cervantes. E foi escrito na cadeia. De quem ele pegaria inspiração? Não é o livro mais lido no mundo. Perde para a bíblia, que duvido muito que seja lida por todos que a adquirem. Vejo bíblias enfeitando salas, mesas de trabalho, mesas de cabeceira e até painel de táxi, mas não sei se foram lidas. Geralmente estão amareladas e amassadas, mas penso que apenas foram manuseadas, como um amuleto. Conheci uma boa mulher, que tinha uma bíblia da Enciclopédia Barsa em lugar de destaque na sala de sua casa. Perguntei se havia lido e ela me respondeu que não porque ouviu dizer que quem lê a bíblia fica doido. Concordo em parte. Para mim quem lê aquele monte de histórias sem pé nem cabeça já é doido. Quem lê e tenta convencer ou outros a seguir o que está escrito ali, é doido contagioso, tipo coronavírus, só que sem vacina.


Estudei em um colégio Batista, não pela vocação religiosa, mas porque precisava passar de ano e o colégio católico não queria mais saber de mim, ainda bem, porque não aguentava mais receber ordens de homens de vestido. No colégio evangélico, fui tratado sem qualquer reserva. Sabiam que eu não era crente, mas tive que assinar um documento declarando que não tinha o hábito de fumar, e realmente não tinha o hábito. Tinha o vício de fumar, o que é muito diferente.

Todos os dias, tínhamos que frequentar uma assembléia, de pouco menos de meia hora, onde eram cantados hinos de louvor e lido um trecho da bíblia. Acho que essa história de dizer que a bíblia é o livro mais lido põe na conta os que ouvem quem lê, mesmo que não esteja prestando atenção. É mais ou menos como os mil gols do Romário, que contou até os que fez nas peladas de rua. Acho que é até pior. Deve ser como os mil gols do Tulio Maravilha, que contou também os replays passados na televisão.


Há uma pesquisa que diz que o segundo livro mais lido do mundo é o Livro Vermelho do Mao Tse Tung. Aquilo foi editado pelo governo e distribuido um para cada chinês. A conta foi feita assim, mesmo não considerando que a maior parte era de analfabetos. Mas na China falou está falado. Quem vai discordar? Ninguém entende o que eles falam.


Bem, vou continuar escrevendo. Qualquer dia disparo os textos para todas as redes sociais e conto como se fossem lidos. Deu certo com fake-news, mas texto para leitor de fake-news tem que ser curto e, de preferência, desenhado. Ainda não tenho esse talento. Acho que nem quero ter.



Rio de Janeiro/RJ, 26 de janeiro de 2021


Nenhum comentário:

Postar um comentário