segunda-feira, 12 de fevereiro de 2018

Entretenimento a Bordo

Agora os aviões não oferecem mais filmes nas telas, pelo menos nos vôos domésticos.

Já que ninguém desgruda do celular, inventaram de criar um aplicativo que a gente baixa antes da viagem. Depois é só se conectar no wi-fi da aeronave e escolher a atração.

Até aí, tudo bem. Afinal, entre esticar o pescoço para enxergar telinhas minúsculas postadas ao alto e assistir a programação por uma telinha menor ainda, mas pelo menos em nossas mãos, prefiro a última.

As telas no encosto eram bem práticas, mas devia precisar de muita manutenção. Eu mesmo já peguei algumas que não funcionaram nem com os tapas que eu dei, e que quase me fizeram levar outros do passageiro em frente.

Mas pior do que isso são as incontáveis interrupções por conta dos comunicados da tripulação. Suspender o programa para que a gente preste atenção às instruções de segurança, tudo bem, embora ache pouco provável que vá me lembrar de tirar o assento flutuante, amarrar no corpo, só inflar quando estiver fora do avião e usar o bico para soprar, se aquele troço não funcionar. Talvez não haja nem tempo para isso, pois nunca ouvi alguém contar que tenha passado por tal experiência.

Tirando isso, para que interromper cada vez que o piloto fala algo que só deve interessar aos comissários? O que ganho sabendo que as portas estão em automático, por exemplo?

Um dia desses, voando de São Paulo ao Rio, escolhi uma palestra no TED, com o Tim Urban, que por ser TED não poderia levar mais do que 20 minutos.

E quem falou que consegui assistir até o final? Pararam o vídeo não sei quantas vezes. Seja para descrever o cardápio daquele lanche sem gosto, seja para avisar que iam recolher o lixo, para dizer que iniciariam a descida, informar o tempo no Rio (o que eu de qualquer modo saberia em minutos), para agradecer a preferência pela companhia aérea, enfim, só faltou dizer que a sobrinha do comandante havia nascido.

Por sorte encontrei a palestra no YOUTUBE e ainda no Uber consegui terminar de assistir.

Claro que não sem antes ter pedido ao motorista que parasse de me perguntar se eu queria bala, água, se o ar condicionado estava bom e se eu tinha preferência por alguma estação de rádio.

Rio, 2017


*Crônica vencedora estadual (RJ) e finalista nacional do Festival Talentos/FENAE 2017 (Curitiba/PR)