Nas
duas apresentações de Jorge Drexler, no Rio e em São Paulo, um trecho de música
me calou mais fundo por sua verdade absoluta. “Nada es más simples, No hay otra
norma: Nada se pierde, Todo se transforma.”
De
forma inspirada, o talentoso uruguaio repetiu sob aplausos a frase de Lavoisier,
que veio lhe custar a cabeça, do Lavoisier e não do Drexler, na sequência da Revolução Francesa, mesmo com
toda a comunidade científica européia implorando clemência a Coffinhal, que
respondeu que a França não precisava de cientistas. Ainda bem que precisamos de
arte.
O
que é a transformação, se não a ruptura? Nada se transforma se não houver o fim
de algo que, mantido, impediria a evoução e, talvez, a passagem do tempo. Novos
tempos são o efeito do fim dos velhos tempos.
A
aceitação do novo é dolorosa para quem já acumula experiência com perdas, e a
iminência de mais uma se faz sofrida, quando deveria se mostrar como
oportunidade de renovação.
Mas
a contagem da vida se faz, a partir de um ponto de inflexão, de forma
regressiva, e o novo traz medo, se visto como a implacável caminhada para o
ponto final, ao invés de mais um dos pontos parágrafos que dão fôlego a uma
história com muito ainda a ser contada.
Ruptura
abre caminho para uma nova vida, e novas vidas chegam em meio a lágrimas. Nascemos chorando, até que sejamos
aquecidos e alimentados, quando então experimentamos o conforto do aconchego. A
partir daí, vivemos para um mundo novo, rompidos do cordão umbilical.
Rupturas
devem ser vistas como degraus, que amenizam o esforço da subida. Finda uma
etapa, passamos para a próxima, e a vida se faz entre as duas. Reservamos ao
passado um lugar em que possa ser acessado, quando precisar e se precisar. Não
é algo para ser remexido o tempo todo. Se tivéssemos que andar olhando para
trás, teríamos olhos na nuca.
Transformar
o fim em recomeço é viver para sempre, é transformar perdas em ganhos. Se a
vida insiste em tirar, insistimos em repor. Teremos então uma existência sempre
renovada, com os mesmos anseios que antecedem o novo, que deixam a respiração
entrecortada e o coração descompassado. Quem precisa de rotina o tempo todo?
Separações
escondem o outro lado da dor. A despedida do viajante ofusca a descoberta. O
adeus a um relacionamento deve ser breve, para que outro surja sem os vícios do
que se foi. Não é o fim que nos prende. Nós que nos prendemos ao fim.
Romper
é ter coragem. Coragem de pensar, de refletir, de encontrar, de se encontrar. É
ter coragem de viver. E a vida só vem após a ruptura.
Rio, abril de 2018
Ótima reflexão! Gostei muito!
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